Suicídios diários: Todos os caminhos para lugar nenhum
Sei que não posso manter o controle sobre as coisas. Então tento gritar e grito já que não há uma banda para me acompanhar. A vida não deixa de ser engraçada, mesmo quando se está por baixo.
Tantos tumultos e tantas perturbações. Como pude cair uma vez mais nessas armações? Sou tão tranquilo e às vezes impulsivo. Essa ambiguidade que tem me atormentado mais. Uma silenciosa demonstração do quanto odeio essa minha má postura.
Queria escrever um romance, mas tempo me falta e a cada escritor que conheço me faz pôr no meu lugar coisas que não devo me atrever. Seja por pretensão ou por medo a exposição. Mas como poderei ser escritor ou poeta se não me atrevo? Já sei. Vou fazer quadrinhos. Parece mais leve. Poderei errar pelas páginas de nanquim ou de cores.
Adoro errar. Por que então me importo com a opinião alheia?
Talvez porque eu saiba que sequer chegarei perto dos grandes escritores. Aliás, por que grandes escritores? De qualquer forma jamais chegarei perto dos anos luz que eles postularam nessa existência.
O mundo tem me feito-mudo. De otário. De otário e babaca. E isso tudo eu devo a essa má postura. Sabe, eu tenho percebido outra coisa interessante: agora vejo que minhas notas são tristes. Uma melodia estranhamente triste. Um “popzinho” despretensioso. Acredite, mas é uma vasta procura do meu entender. Soa às vezes melancólico, às vezes triste. A letra é o que também me refiro.
E na minha rotina me esqueço um pouco. Largo de meu ego e ele foi soterrado em minhas tarefas. Isto é perigoso. Porque aquele que deixa de lado o seu ego renuncia um pouco de sua individualidade. E toma mais uma peça da grande engrenagem tal qual todo símbolo dos sindicatos são iconicamente uniformes.
E só não me esqueço de mim quando escrevo ou canto. Canto e percebo quem sou eu e tento me esquecer para não ser tão egocêntrico quando ouço outras canções e leio outros livros.
O ambiente em que me mantenho (ou por assim dizer “me mantém”) empregado, tento, ao máximo, considerar surreal. Na verdade, todas as baboseiras estúpidas que a tendência humana pode expelir estão lá Inconcebivelmente naquele lugar.
Por outro lado, uma renuncia de minha parte deste mundo quebrariam oito anos de condicionamento. Isso seria grande para mim uma vez que senti em apenas um dia e meio a sensação de se estar desempregado. Mas o peso dos dias iria me fazer sentir a quebra dessa rotina.
Minha companheira tentou me convencer que meu dia seria ruim se eu começasse a xingar pela manhã. Eu disse a ela que uma pessoa que desejasse que o dia passasse rápido deve ter dias ruins. Isso não deve ser normal: uma pessoa desejando desesperadamente que as horas e as semanas passem incessantemente na esperança de surgir algum momento válido. Eu tenho pena desse suicídio diário. Nem tanto de mim, talvez porque tem outro agravo: existem pessoas mais infelizes do que eu e não sabem. Não se dão conta disso. Acho que de um certo ponto, por não saberem, até são felizes. Estão presas em seus conceitos imutáveis. Até tentam burlar a si mesmas, mas se tornam hipócritas quando não esbarram em suas diretrizes preconcebidas. Não sei até que ponto isto é bom ou ruim, de fato.
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O CEMITÉRIO DOS SEPULTADOS AINDA VIVOS
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O CEMITÉRIO DOS SEPULTADOS AINDA VIVOS
Vês que trabalhas e não tens hora extra.
Na verdade, não tens folga.
Só expediente.
Os reflexos dos desesperos rebatem nas paredes da Fábrica
Apego demais à matéria.
Tu morreste e não sabes
Tu sofreste e não tem consciência
Quanto vale o teu salário para largar de lado a família?